domingo, 12 de maio de 2013

PAI CONTRA MÃE resenha

Este é um conto da obra: Relíquias de Casa Velha de Machado de Assis. Livro de domínio público disponível no site: file:///C/site/livros_grátis/contos_diversos.htm .
            Joaquim Maria Machado de Assis, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 21 de junho de 1839, onde faleceu em 29 de setembro de 1908. É o fundador da Cadeira nº 23 da Academia Brasileira de Letras. Ocupou por mais de dez anos a presidência da A.B.L.
Cândido Neves, Candinho em família, era casado com Clara e os dois moravam, de favor, com a tia dela numa casa alugada. Ele tinha por ofício, depois de ter tentado muitas outras profissões, sem êxito, a ocupação de capturar escravos fugidos em troca de recompensa. Mas os tempos eram difíceis, os fugitivos eram escassos e a concorrência era muito grande. Os três; Candinho, Clara e tia Mônica, estavam passando por momentos difíceis quando souberam que Clara estava grávida. Apesar de esta trabalhar dobrado em suas costuras, não conseguia ajudar a família a sair da situação em que se encontrava. Para piorar as coisas, quando o bebê nasceu, eles receberam ordem de despejo por conta dos aluguéis atrasados. Sem outro recurso, eles foram morar num porão, por caridade de uma velha amiga da tia.
A tia Mônica, alegando que eles não teriam como sustentar a criança, sugeriu que levassem o recém-nascido à Roda dos enjeitados. Candinho, que estava contente, ficara, ao mesmo tempo, desesperado, pois a tia praticamente o obrigava a se livrar do filho, e se ele não o fizesse ela mesma o faria; afirmava ela. Entretanto, como chovia muito, ele decidiu que levaria o menino no dia seguinte. Naquela longa noite ele reviu todas suas notas de escravos fugidos. Um dos anúncios lhe despertou interesse, era o de uma mulata. Pagariam cem mil-réis por sua captura. Cândido Neves passou o dia a procurá-la, em vão. Finalmente chegou a inadiável hora de abandonar a criança. Candinho procurou fazer o caminho mais longo possível até a Rua dos Barbonos. Foi quando, inesperadamente, ele avistou a mulata fujona em uma das ruas do bairro. Num impulso instintivo, Cândido deixou seu filho numa farmácia ao lado e partiu em sua perseguição. A fugitiva não se entregou sem resistência. Mas foi levada ao seu dono assim mesmo. No caminho, a mulher se debatia e implorava para que a deixasse partir, revelando que estava grávida. Candinho nem ligou, arrastou-a brutalmente e a entregou no local indicado pelo anúncio... e recebeu a tão cobiçada recompensa. No chão, entre o medo e a dor , depois de algum tempo de luta, a escrava abortou. Cândido Neves não se comoveu com a dor da negra, seus pensamentos estavam no seu filho que havia ficado com o farmacêutico. Ao voltar, aquele pai se lançou sobre seu filho com a mesma fúria com que capturara a negra fujona, só que fúria de amor. Cândido  com o menino nos braços, mal agradeceu ao benfeitor e partiu depressa, não para a Roda dos enjeitados, mas para casa.
Após ouvir as explicações de Candinho, e principalmente pelos cem mil, a tia Mônica perdoou a volta do pequeno. Cândido, feliz com seu filho nos braços, abençoou a fuga e nem se lhe dava do aborto. “Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração”.
          Aquele pai tudo fez para ficar com seu filho e não se deu conta  de que uma mãe ficara sem o filho   dela. A felicidade daquele dependera da infelicidade da desafortunada mãe.    
          Os valores morais da época permitiam que esse tipo de situação fosse considerada normal. 
JOSENILTON DE SOUSA E SILVA - acadêmico de direito da Faculdade UNAERP Guarujá.           

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