quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O QUE É PODER

Palavra abstrata que pode se revestir de significados diversos, dependendo do contexto e época em que esteja inserido. Alguns amam, outros detestam o poder, mas o que se sabe é que não se pode subestimá-lo. O poder não é um ser, é o nome atribuído a um conjunto de relações que formigam por toda parte do corpo social (poder pedagógico, pátrio poder, poder do policial, poder do padre etc.). O poder é instaurador de normas, mais que de leis.
Ter poder é ter meios para influir no comportamento de outras pessoas, é uma ação imposta por um ator a um outro ator. É a utilização da força para coagir seus subordinados, mas nem sempre com meios violentos. Existem diversas formas de se expressar o poder.
Max Webber define o poder como dominação, do alemão Herrschaft: Herr = Dominus = Senhor. A dominação, segundo ele, é a probabilidade de que uma ordem específica seja seguida por um dado grupo. O Poder de Estado persegue fins que são da coletividade, portanto não deve ser exercido de forma coercitiva, a não ser em casos extremos.
Talcott Parsons acredita no poder consensual nas democracias ocidentais, o Imperative Control, que é dispor de confiança tal que o grupo delegue aos detentores do poder a realização de fins coletivos. É dispor de autoridade.
Para alguns filósofos franceses, o Poder é um monstro abominável pelo qual os súditos temerosos dobram os joelhos. Para eles é mercadoria rara que só podemos possuir a custas de outras pessoas — o poder que possuo alguém não possui, é o que os americanos chamam de soma zero onde o poder de A implica o não poder de B.   Neste caso a coerção é essencial para a obediência política. Esta tese encontra-se presente em autores como Marx, Nietzsche, etc. Parsons discorda totalmente dela.
 No início as Polis (cidades gregas), se baseavam num princípio de igualdade para uma convivência melhor possível onde a vida pública não deveria ser caracterizada pela dominação, (Aristóteles).
 O Poder foi apropriado pela classe dominante, no século VII a burguesia tomava o Poder Estatal em seu favor, visando seu interesses particulares.      
No fim do século XIV surge um complexo institucional com poder próprio encarregado de garantir a segurança e a justiça, o Poder de Estado. Depositário  das vontades comuns, com potência para governar. No século XVI dá-se  a expansão do capitalismo favorecido pelo absolutismo, surgem os primeiros exércitos profissionais para garantir a ordem e a lei, na concepção moderna de cidade. Para o inglês Thomas Hobbes, no século XVII, a dominação suprema seria a condição fundamental para o funcionamento da Polis, a idéia de um poder constitutivo da Cidade. Esta idéia marca a nascença da nossa modernidade política. A monarquia se torna absoluta e legisladora.
 Desde o século XVIII o poder político é uma instancia que constitui súditos sujeitos a seus mandos. Segundo Tcqueville, nesta época, as instituições medievais só existem no nome. A realeza nada tem a ver com a realeza da Idade Média. O poder político torna-se agregado do capitalismo.
David Hume notava no seu Tratado da Natureza Humana (1740), portanto, que não é impossível que os homens mantenham a sociedade, por algum tempo, sem intervenção do governo. Quando os bens da vida são escassos e de pouco valor isso é possível. Temos como exemplo as tribos indígenas americanas.
O poder deve-se às necessidades da guerra e os acampamentos são os verdadeiros pais das cidades. Nelas impõe-se o poder quando as regras de justiça já não têm sustentação em si mesmas para impor respeito. Os homens se acostumam rapidamente à obediência cívica, e o dever da obediência enraizou-se por si só, diz Hume.
A análise de Hannah Arendt cita que a verdadeira relação dominante / dominado está na esfera familiar e não no Estado.
Hobbes em seu “Leviatã” cita que a primeira marca do Príncipe soberano é o poder de dar lei a todos em geral, e a cada um em particular. O Soberano de uma República não está sujeito às leis civis. É a única antidesordem eficaz, é ele ou o caos. A ele cabe zelar pela vida cômoda e pela segurança de seus súditos. O Príncipe legítimo de uma potência acha-se liberto de toda norma ou regra.
Os interesses econômicos estão acima dos éticos. A única razão que pode me convencer a obedecer à lei é que ela é a lei — é saber que serei castigado se a infringir.
Para a mentalidade corrente no século XIX o poder torna-se uma palavra pejorativa — significa mandar. Marx reduzia o poder político a uma a uma instância opressora, encarregada  de manter as condições de funcionamento de um sistema de produção anárquico acoplado a um sistema de distribuição iníquo.
O poder não é um caso extremo de exercício da autoridade: ao contrário, é a sua violência, quando em surdina, que torna possível uma aparência de autoridade cortês e benevolente. Em qualquer sociedade que seja.   

JOSENILTON DE SOUSA E SILVA - acadêmico de direito

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