quarta-feira, 18 de julho de 2012

SAGARANA – “SÃO MARCOS” resenha


         São Marcos é um conto de Guimarães Rosa, pertencente à sua magnífica obra Sagarana. O livro foi escrito em 1946 quando, então, o autor surgia com grande sucesso para o mundo literário. Nesta, ele apresenta a paisagem e o homem de sua terra numa linguagem exclusiva - São nove contos em 386 pg. Editora Nova Fronteira S/A RJ – 40ª edição –1984.
O escritor João Guimarães Rosa, nasceu em 1908 no sertão de Minas Gerais e faleceu no Rio de Janeiro onde morava, em 19 de novembro de 1967. Objeto de teses no Brasil e no exterior foi aclamado em vários países como protagonista da mais radical revolução literária do século XX. Dentre o seu legado estão obras como Grande sertão: veredas. Seu último livro publicado foi Tutaméia.
Zé conta que morava no Calango-Frito, onde quase todo mundo era feiticeiro, até as crianças faziam feitiçaria. Ele não acreditava nessas besteiras, mas, por via das dúvidas, trazia consigo, bem escondidinho, uma “reza-forte de São Marcos”, que não podia ser recitada em vão, sem que se viesse a sofrer as conseqüências... e ele acreditava nisso. Mas, quem não acreditava?
Todo fim de semana, costumava domingar no mato das Três Águas para apreciar a rica fauna e flora do lugar. Ocorre que o melhor atalho renteava a frente da “cafua do Mangolô”. O preto sempre estava sentado em seu banquinho na frente da maloca. Ao passar por lá, Zé fazia questão de debochar e zombar do preto-velho, apelidando-o de nomes feios e racistas, na maioria das vezes o negro não ligava. Mas, um dia Izé se excedeu em sua zombaria, chegando aos limites da ofensa à moral do feiticeiro. Pela primeira vez o preto se irritou e entrou na cabana batendo a porta, ainda sob a chalaça do gaiato que prosseguira com os xingamentos.
Como sempre fazia na mata, Zé quedou-se a admirar as belezas naturais quando, de repente, tudo escureceu. Ficara “Cego”. No princípio ele achou que era coisa passageira, mas logo constatou a apavorante realidade. Todo ferido entre os espinhos da floresta, desconfiou que o velho feiticeiro tinha alguma coisa a ver com isso. Horrorizado, passou a bramir a “reza-brava de São Marcos”. Sua raiva o levou à porta do João Mangolô, à qual arrombou aos murros. O feiticeiro implorou para que não o matasse, e confessou choramingando que havia feito apenas uma brincadeirinha sem maldade, só para assustá-lo. O macumbeiro amarrara uma tira de pano preto nos olhos de um boneco enfeitiçado, para que Izé ficasse sem enxergar por uns tempos, dessa forma não se aborreceria vendo a feiúra daquele.
Uma vez desfeito o mal-entendido, Zé agradeceu ao feiticeiro e ainda lhe deu uma nota de “mil-réis” pra que selassem a paz. Em seguida saiu, todo esfolado, mas aliviado e satisfeito em poder apreciar novamente as belezas e cores da natureza.
Quanto ao feitiço, este conto pode ser concluído com um adágio popular que diz: “acreditar eu não acredito, mas, que existe, existe!”. 
 
JOSENILTON DE SOUSA E SILVA - acadêmico de direito da Faculdade UNAERP Guarujá.

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